quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A música modificadora de destinos

ONG destinada à promoção da leitura monta escola de música e terá alunos prestando vestibular na UFRGS



Na entrada principal do Instituto Popular de Arte-Educação (IPDAE)um caminho de pedras desenha uma curva até a parte mais baixa do terreno. Ao lado deste caminho árvores, jardim e banquinhos à espera de alguém que sente neles para curtir o ambiente. Pelo caminho seres infantis e uns um pouco maiores, que com suas delicadas mãos juvenis seguram instrumentos musicais. Tiram deles notas e mais notas, algumas belíssimas outras um tanto desafinadas. Esses jovens fazem parte das duas orquestras do instituto e tiveram suas vidas modificadas. Agora possuem a esperança de um futuro digno de uma estrela.

O IPDAE foi fundado em 1998, pela atual diretora executiva Fátima Flores. É uma ONG filantrópica e tem por objetivo integrar a comunidade, da Lomba do Pinheiro às artes, a história e à música erudita. Tendo também como foco a leitura, já que possui desde a sua fundação uma biblioteca. Em 2006 o instituto criou a Orquestra Infanto-Juvenil, que originou a atual Orquestra Jovem. No último dia 3 de novembro, um grupo de 40 crianças e adolescentes deram origem a uma nova filarmônica Infanto-Juvenil.

Fátima lembrou que no início havia apenas a biblioteca e algumas oficinas de teatro que acabaram não dando certo. “Parceiros foram chegando aos pouquinhos e foi a partir daí que começamos o projeto musical.” Salientou.

A diretora falou que, ao criar o instituto queria que as pessoas, principalmente os jovens, “pudessem alterar suas expectativas de vida”, não indo para mundo do crime. O IPDAE vive de doações feitas por grandes instituições e de pessoas físicas. A única coisa pedida aos alunos é que levem, uma vez por mês, produtos de limpeza para a manutenção da higiene do ambiente.

A ONG já possui um terreno para a construção de uma nova sede para a biblioteca. Esse local irá facilitar o desenvolvimento das aulas de música, pois terá salas mais amplas, coisa que a atual sede, alugada, não possui. Fátima enfatizou que para o novo espaço sair de vez do papel faltam recursos financeiros.

A professora de Música e responsável pelo funcionamento da escola, Rosângela dos Santos, disse que apesar da nova sede não ser a ideal para esse tipo de trabalho, será melhor por causa do espaço físico. Rosângela explicou que a escola de música surgiu em outubro de 2007, após pensarem em um projeto como um todo e já haver a orquestra. “Antes existiam apenas oficinas, que não aconteciam de forma regular”. A professora falou que quando entrou na instituição, a direção procurava alguém para dar aulas de violino há quase um ano.

A escola de musica surgiu a partir da montagem do primeiro grupo filarmônico. Era necessário que os alunos tivessem uma base e saíssem do IPDAE preparados. Foi Rosângela que montou o projeto pedagógico. Ela explicou que o curso tem duração total de oito anos, dividido por programas semestrais. “São três níveis de ensino que focam coisas diferentes”, salientou. A primeira e a segunda etapa têm a duração de três anos, sendo o foco na teoria e percepção e no canto coral. No último nível, o principal, o foco é o instrumento e a preparação para o vestibular.

Assim como qualquer escola, os alunos passam por avaliações e por uma banca a cada final de semestre. Todos passam por essa avaliação, até mesmo os pequenos. Rosângela disse que a avaliação faz com que o aluno “leve o trabalho a sério” e também se “prepare para as diversas provas que irão fazer no futuro”, quando se tornarem profissionais. A professora ainda falou que para a escola falta o registro, mas a direção do instituto já está finalizando o processo de obtenção dos documentos necessários.

De acordo com o rendimento do aluno, ele pode levar o instrumento para a casa para praticar. Ao total são 180 alunos inscritos. Só no ano passado, a então Orquestra Infanto-Juvenil apresentou-se em 25 cidades do Estado.

Das aulas no IPDAE às aulas da UFRGS

Os irmãos Priscila e Thiago de Souza Pinto, ambos de 18 anos, concluíram o Ensino Médio em 2009 e compartilham o mesmo sonho, entrar na UFRGS. Há um ano eles estão estudando para o vestibular e para a prova prática. Priscila explicou que não irão fazer a prova este ano, porque ainda não estão suficientemente preparados. “Ainda temos que estudar e praticar muito, não podemos fazer feio”.

Rafael dos Santos Marques e Luciano Gularte Corrêa, os dois com 17 anos, pretendem seguir os passos dos amigos e fazer vestibular a daqui dois anos. “Quero ser professor”, disse Rafael. Os quatro pretendem tocar em outras orquestras, mas só se surgir a oportunidade. Todos gostam muito do instituto e preferem não pensar como vai ser o dia que terão de sair.

Naiara M. Assis da Silva, 16 anos, pretende viver de música. Ela estuda no 1º ano do Ensino Médio e já se prepara para virar professora de música. Está no IPDAE há seis anos e há quatro toca na orquestra. Como toca flauta doce quer seguir carreira solo, já que raramente as sinfônicas possuem músicos que toquem esse tipo de instrumento. Explicou que “em geral quando há e porque o artista foi convidado”. Naiara é monitora na escola, e auxilia os alunos iniciantes que apresentam dificuldades.

Diferente dos demais colegas, Mariany Barbosa Pereira, 13anos, quer seguir a carreira na música erudita, mas também quer participar de alguma banda mais popular. Além de tocar violoncelo, ela também toca violão.



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