sábado, 31 de outubro de 2015

#QLQRUA: Um olhar no espelho

Imagem: arquivo Vidanet
Um olhar no espelho e Seu Walcir tenta se reconhecer, sente medo de morrer, não pela morte em si, mas pelo fato de deixar abandonada a família. É casado, tem três filhos. O rapaz de 30 é pai de Valentina, de 4 anos, a única menina da família. O de 23 anos irá se formar no ano que vem na faculdade. O de 13 anos, bom esse ai, é o mimo de todos. Ainda tem a nora de 28 anos, que fez questão de morar perto dos sogros, que considera como seus pais. Tão perto que mora na casa ao lado. Nos fundos do terreno do Seu Walcir tem um imóvel, será a casa do filho do meio. O mais moço e a neta também terão seus espaços ali pertinho quando crescerem.

Ainda em frente ao espelho ele pensa na família, quando partir quem cuidará da sua amada, dos filhos, da filha postiça e da neta?

Ver o seu reflexo é algo que o senhor de 58 anos tem evitado fazer há cerca de dois anos. Quando descobriu um caroço no peito, no seio esquerdo. Na época não imaginou que seria grave, porém ao visitar o médico recebeu a notícia de que se tratava de um câncer de mama, no mesmo tipo agressivo que lhe levou a mãe prematuramente aos 35 anos. Foi um choque. Logo após a descoberta ele recebeu todo o tratamento, por ter sido cedo os riscos de cura eram altos. Infelizmente o tratamento não impediu que ele perdesse a mama. Em uma cirurgia ele teve o tumor removido, assim como toda a mama e o mamilo.

As quimioterapias lhe levou os poucos fios de cabelo, alguns das sobrancelhas, e alguns cílios. Alguns quilos também. Não estava sendo fácil, mas ele não perdia a piada, o sorriso. Só até a tirada do curativo, colocado após a cirurgia. Quando isso foi feito, Seu Walcir foi ao banheiro sozinho, fechou a porta e lá encarando o espalho viu pela primeira vez o peito, de cabelos brancos, com uma cicatriz, com um lado mais baixo, sem o mamilo. Para ele aquela cena era horrível, aonde existia uma cicatriz, o homem via um buraco gigantesco. Um buraco que lhe cortava o peito. Chorou, em silêncio, sentado ao chão.

Ficou triste, não tira a camisa por nada, nem nos dias mais quentes. Não foi mais a praia nem no clube.

Encontrou força e um pouco mais de vaidade após começar a participar de um grupo no hospital. Lá mulheres que haviam sofrido o mesmo que ele se reuniam para compartilhar histórias, experiências, angústias e alegrias. Walcir era o único homem do grupo, todavia, sabia bem o que aquelas amigas sentiam.

Mesmo com a mama bem menor que uma mulher, mesmo com uma vaidade diferente, a perda do peito foi algo significativo para aquele homem. Perder uma mama ou as duas é algo terrível para as pessoas. Não tê-las não é algo natural, quem as perde acaba também perdendo um pouco da beleza do corpo. Mas Walcir, assim como as amigas ganhou uma prótese mamária e a reconstituição de mamilo.

Claro que perder a mama foi ruim, todavia ter encontrado o tumor cedo foi a melhor coisa a ser feita. Com o tratamento rápido, e após a cirurgia a doença sumiu. Tal como dizem os especialistas, quanto antes se descobrir o câncer maiores são as chances de cura.

No caso das mamas o exame de toque mensal (autoexame) é uma forma de encontrar um nódulo, e procurar ajuda quando perceber algo diferente. Lembrando que mulheres com idades a partir de 40 anos devem fazer também a mamografia. O câncer de mama masculino é raro, atinge menos de 10% dos casos, mesmo assim, homens e mulheres devem cuidar com carinho desta parte do corpo.

Voltando ao Seu Walcir, ele continua lá na frente do espelho, só que agora de olhos fechados. Tira a camiseta, abre apenas um olho, espia a imagem refletida, com um sorriso abre os dois olhos, analisa bem a imagem, toca o peito e solta: _Ficou perfeito!

Rindo sai do quarto e corre mostrar para a família o peito, assim fez a Dona Margaria, amiga de grupo, que após ver que os seis voltaram a serem lindos mostrou a todos.

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Essa é uma história real, apenas foi modificado o nome do personagem. Leia mais crônicas da série Em Qualquer Rua aqui! E não esqueça de seguir a página da série no Facebook clique acesse :)

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Marcador de página Em Qualquer Rua: O Feijão

Neste Dia Nacional do Livro resolvi transformar uma das crônicas da série Em Qualquer Rua  em marcador de página. O texto escolhido é um fofinho e sobre um dos alimentos preferidos dos brasileiros (aqui em casa nem se fala): O Feijão.

Baixe, imprima e use =D


terça-feira, 27 de outubro de 2015

sábado, 24 de outubro de 2015

#QLQRUA: Borboletas no estômago

Borboletas
Na frente do espelho o jovem ator respira profundamente, a ansiedade acompanha as pinceladas que ele dá com a maquiagem branca no rosto. Já as borboletas no estômago, essas batem suas asas em um ritmo frenético.

Ele se olha e se questiona: _Será que a maquiagem está boa, será que esta do jeito correto? Será que o público irá gostar?

Quem olhava aquela cena mal imaginaria o tumulto de ideias que passava na cabeça dele, afinal, apesar de ter 20 anos, ele era conhecido nos palcos. Mas a maldita ansiedade da estreia era a companhia do ator naquele momento.

Respirava ainda mais fundo, tentava relembrar o texto, passava-o todo na cabeça, imagina perder o fio da meada. Não seria para ele um problema, sabe improvisar, mas será que o resto de elenco saberia acompanhá-lo? Para não arriscar era melhor se manter assim, com todas as falas na ponta da língua.

De acordo com os atores mais experientes essas borboletas são comuns em todos os atores, nas estreias das peças teatrais, do cinema, da novela, do seriado. O jovem sabia disso, mas bem que ele queria tranquilizar aquelas batedoras de asas.

A estreia é sempre um momento importante na vida de todos nós, não é só pelo início de uma nova história, isso porque quando uma nova rotina é criada gera novas expectativas, algumas desnecessárias. Elas geram medo, pois não temos medos apenas de coisas concretas, como bichos, mas também é do desconhecido.

Nem sempre começar algo na vida é uma tarefa fácil, muitas vezes requer perdas, coisas deixadas de lado. Por vezes uma estreia é recomeçar, não sair do zero, mas transformar a história que está sendo construída.

O medo do jovem ator é compartilhado por todos nós, todos conhecemos bem, contudo, do jovem as borboletas se acalmarão quando ele pisar no palco, e irão embora quando as palmas para ele e todo o elenco encerrarem o espetáculo. Para todos nós, elas nos deixam aos pouquinhos e quando percebemos as borboletas já foram embora e as nossas barrigas livres de suas asas frenéticas.

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Leia as demais crônicas da série Em Qualquer Rua aqui.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O mistério é o ingrediente principal da história

Sin Corazón - Livro 4 - O protetorado da sombrinha
Se alguém quiser muito movimento no quarto livro da série "O protetorado da sombrinha" peço para que vá com calma. A história é muito mais envolvente e com um bom ar de mistério do que as anteriores. Alexia já está num alto estágio de gestação, Lord Malcon está cada vez mais carinhoso. A nossa guerreira paparicada de todos os lados, mas ela não para e nem quer.

A rainha pode ser morta a qualquer momento e Alexia está disposta a evitar que isso ocorra, e para tanto não poupará esforços. Sua investigação lhe colocará em perigo, porque ela não mexerá apenas com detalhes do presente, e sim do passado. Um passado que muitos querem deixar escondido, quieto.

Além da investigação outros detalhes surgiram e personagens que acreditávamos serem apenas tolos e inocentes mostram uma outra face, mais perigosa e mais inteligente.

Enfim, Sin Corazón (Sem Coração) é uma história que envolve um bom suspense e uma boa dose de aventura e perigo.

sábado, 17 de outubro de 2015

Dos Quadrinhos à Vida Real: Mônica e a turma ganham novos cenários com as fotos de Sabrina Rodrigues

Foto: Dos Quadrinhos à Vida Real
Com pouco mais de um ano a página Dos Quadrinhos à Vida Real tem conquistado milhares de fãs. No momento em que escrevo esta matéria ela já possuí 4.678 seguidores. O sucesso não é a toa. De maneira criativa Sabrina Rodrigues alimenta a página com fotos que mesclam a magia dos desenhos com cenários reais. Os personagens são os mais amados no País, e talvez no mundo, a Turma da Mônica. Conversei com Sabrina, que nos falou um pouco sobre o trabalho que vem desenvolvendo, do sonho de conhecer Maurício de Sousa, e da recepção bacana que o trabalho vem recebendo, inclusive das filhas do autor Mônica e Magali.

Sabrina/Foto: Dos Quadrinhos à Vida Real
Sabrina é de Campinas (SP), e se define como uma sonhadora de 25 anos, apaixonada por fotografia e por gibis. A ideia de levar a Turma da Mônica veio de uma forma bastante peculiar. "Foi tudo muito simples, em um belo dia lá estava eu lendo um gibi do Chico Bento enquanto comia uma goiaba, rs, (coincidência não?). Até que em um dos quadrinho, tinha o personagem Zé Lelé pendurado em uma árvore, aí pensei, e se eu recortasse e pendurasse no pé de goiaba do quintal e fotografasse? Fiz, postei em um  grupo de fotografia e a galéra amou, pediram mais e nunca mais parei", lembrou.

O Zé Lelé na goiabeira foi a origem/ Foto: Dos Quadrinhos à Vida Real

Grande parte dos cenários usados nas fotografias são em ambientes naturais. De acordo com a fotografa isso ocorre em razão dos cenários apresentados nas histórias, no qual ela tenta manter no real o mais similar possível.

Para compor as imagens Sabrina utiliza uma série de técnicas fotografias, pois assim ela consegue mostrar no resultado final aquilo que visualizou. Já sobre as dificuldades que surgem ao longo do trabalho, a fotógrafa explicou: "com certeza a maior dificuldade está na hora de fazer a foto, como sempre faço ao ar livre, deixar os personagens do jeito que tem que ficar é bem complicado".

Grande parte das fotografias são da Turma da Mônica, e a escolha por estes personagens foi algo motivado pela paixão. Sabrina contou que os gibis da turminha são seus preferidos, e foi com eles que ela aprendeu a ler. Perguntada se pensa em fazer montagens com outros personagens do Maurício de Sousa ou de outros ela respondeu que "já cheguei á fazer com outros personagens, como a Mafalda, Zé Carioca e outros,  mas me identifico mais com os personagens do Maurício.
Sempre faço mais da Mônica e sua turminha, mas faço também do Chico Bento, Horácio, Turma da Mata e Turma do Penadinho".

Foto: Dos Quadrinhos à Vida Real
Mesmo sendo fã, Sabrina ainda não conhece o quadrinista Maurício de Sousa, mas isso é um sonho que ela quer realizar.

Sabrina disse que não planeja nada especial para a página Dos Quadrinhos à Vida Real para 2016. No entanto, planeja continuar com a página a todo vapor. A fotógrafa acredita que quando o trabalho é feito com carinho coisas vão acontecendo conforme os dias, as ocasiões.

Mesmo com as dificuldades que surgem ao longo do processo, Sabrina é enfática ao falar que a recompensa vem quando as pessoas entram em contato com ela e relatam que a página as fazem voltar no tempo, que cresceram lendo os quadrinhos da Turma da Mônica. "É gratificante saber que as pessoas gostam, comentam e mandam recadinho. Faço tudo com muito amor. Quando criei a página, não sabia que as pessoas iriam gostar tanto, inclusive a própria Mônica e Magali, filhas do Maurício de Sousa, que sempre estão curtindo e compartilhando. Então, caramba, é mais do que eu poderia imaginar, sem palavras. Só tenho à agradecer o carinho de todos", comemorou.




#QLQRUA: Saudades

Foto: Banco de Imagens
Saudade é o tipo de coisa ingrata, algo que por vezes seria desnecessária existir. Maldita saudade, por que será ela faz doer tanto. Dói o coração, o estômago, os olhos, o corpo todo, a alma. O dia pode estar lindo lá fora. Pode ter um belo Sol decorando o céu, depois de tanta e tanta chuva, mas mesmo a cor azul não consegue cativar de forma extrema, apenas deixa o momento triste mais suave.

A saudade de quem já não está entre nós é a pior. Pensar no dia da despedida. Do tchau que nunca houve. Dos abraços que foram, dos que nunca serão dados. Do "te amo" que nunca será ouvido, dos beijos que não serão estalados...

Tem gente que quando sente saudades chora, têm pessoas em que queriam chorar, porém o máximo que conseguem é uma bola trancada na garganta. Respirar se torna tão difícil, suspirar acaba sendo uma realidade pausada.

Sempre haverá alguém que diz que o tempo fará a saudade irá aos poucos embora. Mentira, ela sempre estará lá, como um machucado incurável. A diferença é que haverá dias em que a ferida vai latejar menos, já em outros muito mais.

A saudade nunca nos deixará, pois assim é vida. O que resta quando ela vem mais forte é buscar nas coisas simples, nas pessoas que amamos, nos abraços quentes, no suco de laranja, no café ou no chocolate uns momentos de prazer, pois assim suportar a dor fica mais fácil e mais leve. Quando ela dói pouquinho, coisa que é quase diária, a vida segue, com os toques da alegria, da rotina, do calor, da pressa. Viver é isso, buscar a felicidade mesmo com todos os buraquinhos da alma.

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Chegando perto do objetivo. Essa crônica de número 63, da série Em Qualquer Rua. #RumoA70Crônicas

sábado, 10 de outubro de 2015

#QLQRUA: Com passos de diva e com a certeza de que amor não mata

Imagem: Bridal Perfume
Um coração partido sempre deixa o dono triste, mas ela não queria mais sentir aquilo, aquela angustia era muito ruim. Quem ele achava que era para tratá-la daquele jeito? Sem paciência para o chororo, decidiu menos de 12 horas depois de acabar o relacionamento sério de uma semana que não iria mais ficar na fossa, mesmo que o amor da sua vida tivesse batido as asas e voado para longe dela.

Levantou da cama, enxugou as lágrimas, ligou o rádio, de short e camiseta de mangas longas, peças do pijama branco de desenhos coloridos, passou a dançar num misto de liberdade, passos esquisitos e uma doce sensualidade. Cantarolando a canção de ritmo alegre, foi ao roupeiro escolheu uma camisa verde, pegou as calças jeans justas e que tem efeito levanta bumbum, abriu a gaveta e pegou o sutiã colorido e uma calcinha que não marca a roupa, passou a mão na toalha de banho e foi para o banheiro sem perder o ritmo da música que tocava.

Em baixo do chuveiro teve uma crise de choro, acompanhada de uma crise de riso. Decidiu que enfrentaria aquela dor, até porque chorar enruga a pele (nota desta autora: chorar incha o nariz). Tomou um banho morno, o banheiro virou sauna. O cheiro daquele ambiente era o mais agradável possível. Sair dali era um suplício, de tão gostoso que estava.

Vestida, saiu do banheiro em busca de um par de sapatos, pensou melhor, pegou o tênis. Voltou para o quarto esticou o lençol e pôs a colcha. Sentou na penteadeira, se olho novamente no espelho, na sua mente passava a seguinte frase "sou bonita, inteligente, se ele não quis, problema dele, eu supero". Tal pensamento passou quando no rádio tocou uma playlist especial, sendo que parecia que as músicas haviam sido escolhidas a dedo para ela. Ali sentada, com direito a balançadas de cabelo e dancinhas de ombro, ela passou o corretivo para tapar as olheiras, pó para tirar um pouco da oleosidade da pele, um blush para dar uma corzinha as bochechas.

Nos lábios o batom vermelho. Penteou os cabelos, deixou-os soltos. Pegou o seu perfume predileto, aquele que quando usa arranca suspiros. Passou no pescoço, na nuca, entre os seios, nos pulsos. Sentiu o seu perfume.

Pronta, levantou, abriu as janelas, desligou o rádio, pegou os fones, ligou o rádio do celular, botou os óculos escuros, passou a mão na chave e saiu.

Na rua, saiu com atitude, jeito de quem está no comando, atraiu olhares de homens e mulheres, sedutora sem ser. Saiu por aí, com passos de diva, tentando mostrar ao mundo que ela era especial, e a dor do amor, pode até doer, mas não mata e passa.

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São 62 crônicas da série Em qualquer rua e todas podem ser lidas aqui. #RumoA70Crônicas

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Croasonho entra nos festejos pré Teleton 2015 com o Dia do Bem

Divulgação
A rede Croasonho, especializada em croissants doces e salgados, entra nos festejos pré Teleton com o Dia do Bem Croasonho, que será realizado no sábado, dia 17 de outubro. Parte da renda obtida com a venda de um croasonho médio (qualquer sabor) acompanhado de uma bebida (suco de uva Perini, refrigerante, água mineral ou suco) será destinada ao Projeto Teleton.

Este é o terceiro ano que a Croasonho realiza essa ação, em conjunto da Vinícola Perini, que fornece o suco de uva. A ação ocorrerá nas 68 lojas da rede, que estão espalhadas por 14 estados brasileiros.

O Teleton é um projeto da AACD (Assistência à Criança Deficiente) e tem o apoio de diversas empresas, entre elas o canal SBT, que desde 1998, transmite uma série de shows durante dois dias, para a arrecadação de verba para a manutenção e abertura de unidades. Atualmente a AACD é referencia no tratamento de crianças e adultos que possuem algum tipo de deficiência motora.

No ano passado juntando as ações das empresas apoiadoras e a doação dos telespectadores, o Teleton arrecadou R$30.021.070,00, superando a meta de R$ 26 milhões. Neste ano o objetivo será o mesmo, e o dinheiro, tal como em 2014, será usado para a manutenção dos centros de reabilitação e o hospital da AACD.

O Teleton 2015, que está na 18ª edição, será nos dias 23 e 24 de outubro, no SBT.

Serviço:

O quê: “Dia do Bem Croasonho 2015”
Quando: 17 de outubro
Onde:  em todas as unidades Croasonho no Brasil
Horário: durante todo o horário de funcionamento das unidades

*Essa notícia teve a colaboração de Antônia Futuro, da Retorno Comunicação Estratégica.

sábado, 3 de outubro de 2015

#QLQRUA: A rua da Paixão

Imagem: banco de imagens
A rua da Paixão tem um nome bem poético, fica em uma cidade qualquer, num bairro qualquer. A denominação foi escolhido pela falta de criatividade dos moradores e pela falta de pessoas importantes historicamente, naquele local não havia nascido ninguém importante. Foi chamada de Paixão e assim ficou.

A rua da Paixão no passado era composta de malocas de papel e barro, nelas habitavam famílias enormes, algumas chegavam a ter entre 10 a 20 crianças, irmãos, primos e achegados. Com o avançar dos anos as malocas deram lugar a singelas casas de madeira, as famílias diminuíram, a miséria deu lugar a pobreza. Era um lugar de muito trabalho, feio, mas de muita alegria. Os vizinhos aos finais de tarde, no verão, iam para as calçadas conversar enquanto bebiam algo e comiam petiscos, enquanto as crianças brincavam para aproveitar as férias. Na rua apenas uma casa tinha televisão e todos a noite se reuniam na varanda para assistir aos programas musicais.

A vida não parou e assim a rua da Paixão também teve o seu estilo alterado. As casas de madeira seguem ali, outras são feitas de tijolo, porém nunca receberam reboco, outras estão acabadas, são simples, mas bonitinhas. A rua segue de chão batido, levantando poeira a cada ventania. A pobreza segue.

A rua da Paixão hoje tem moradores solitários, famílias enormes, famílias pequenas. Tem bacharéis, teve moradores que partiram e outros novos. Não tem mais a alegria de outrora, vive triste e amarronzada. Se antes era reduto da tranquilidade e da parceria entre vizinhos, hoje é local do medo, da insegurança. O tráfico tomou conta, as paredes das casas e dos muros tem marcas de balas. Os traficantes expulsaram alguns moradores, a polícia, o poder publico e todo o resto esqueceram da rua da Paixão.

Se antes as crianças aproveitam as noites de verão para brincar, atualmente são elas os mais frágeis neste esquecimento. Há algumas semanas atrás um menino de 12 anos morreu, com um tiro na cabeça, sabia de mais. Ele foi apenas mais um que perdeu a vida e entrou na estatística triste da velha e esquecida rua da Paixão.

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