sexta-feira, 15 de novembro de 2013

QLQRUA: A dor do filho que perdeu o pai vítima de câncer de próstata



O olhar dele é triste, assim como a face. Pelo semblante mostra que traz consigo uma grande dor. O nome não sei, mas sei o que o deixa com esses olhos sem brilho algum.

Há uns dias atrás ele perdeu o pai vítima de câncer de próstata. O jovem rapaz, 18 anos, perdeu um avó há 10 anos atrás da mesma doença. Perguntei-lhe se ele não tem medo de ser acometido pela doença e me respondeu que sim, que não quer passar pela mesma dor que o pai sentia, porém seu maior medo mesmo é que o irmão, apenas um ano mais moço, sofra com a doença.

De olhos baixos me contou a história. As lagrimas lhes escorrem as bochechas pálidas. "É a pior dor do mundo, essa saudade me maltrata. Ai, se ele tivesse feito o exame não teria morrido, eu acho", confidenciou baixinho (quase um sussurro).

Pelo que foi possível entender o pai descobriu a doença muito tarde e o tratamento não fez efeito. Tinha preconceito. O jovem ainda contou que o pai sofreu muito antes de morrer. Que a morte foi um alívio para o sofrimento causado pelas fortes dores, contudo não é o remédio para dor de quem ficou. De dez palavras ditas pelo menos oito falavam em dor.

As dores deste garoto não são físicas, são da alma. Apenas 18 anos e a experiência da perda de duas pessoas que amava muito. O avô e o pai vítimas de câncer de próstata talvez tivessem evitado o sofrimento excessivo de todos com uma atitude simples: a realização do exame de próstata.

O exame que aquele menino tristonho garantiu que fará e obrigará o irmão a fazer. Tudo que ele menos quer é que seus filhos futuros não sintam a saudade agoniante que sente agora. Tudo o que quer agora é afastar o fantasma do preconceito, o mesmo que lhe fez perdeu o seu herói.

Confira as demais crônicas da série Em Qualquer Rua.

Sem comentários: