sábado, 15 de agosto de 2015

QLQRUA: O pai, a dor, a coragem e a pequena filha

Era muita dor para aquele rapaz e seus trinta e poucos anos. Uma dor que lhe rasgava o peito. Naquela tarde quente de sol ele enterrou a mulher de sua vida. A pessoa que amava com todas as forças, sua companheira desde os 20 anos.

Ele caminhava a passos apresados. Há dois dias atrás a dor compartilha espaço com uma alegria sem igual. A rapidez com que caminha é rumo a maternidade onde a pequena e frágil filhinha está.

O medo é maior que tudo. A cada passo um novo dilema: "como farei para criá-la sozinho? Como darei conta de assumir a casa, o cuidado com a meu grande amor e do trabalho? Nossa, meu grande amor! Meu grande amor é tão grande que não tenho noção de tamanho (risos) e tão grande e tão pequenina. Meu Deus, por que me deixaste? Por que não me levou e deixou a mãe? Como farei para explicar as coisas de menina? Como se fala sobre sexo com uma criança? Como vou conseguir a licença paternidade estendida? Como vou educá-la?...

Enquanto reclamava e se questionava em pensamento ia em direção a UTI Neonatal. Lá todos os pensamentos pararam, uma paz invadia o peito. Bastava olhar a menina que dormia tranquilamente na encubadora. Foi um susto seu nascimento, uma tristeza ver a esposa morta 12 horas depois, uma angústia ver a filha tão frágil.

Mas apesar de pequenininha, a guriazinha ainda sem nome, era forte e valente. Em breve iria para casa.

_Papai, está na hora da bebê mamar, senta que essa tarefa é sua!

Falou a enfermeira para o homem, que a olhou de forma apavorada. Ela apenas sorriu, o sentou e explicou como ele teria que dar o mama a neném, o quanto ela era era forte, que já havia ganhado peso, sobre a alta hospitalar.

Enquanto a enfermeira tirava a filha da encubadora, o jovem engoliu o choro. "Aquele era o momento da nossa mulher, teu e dela, da sua mamãe, filha".

Mas ao agarrar a pequena nos braços, coloca-la de forma apertada no peito, acarinhar a cabeça sem cabelinhos, e pegar a mamadeira de leite morninho, ele se encheu de coragem. Era incrível o poder que ela tinha de fazê-lo imaginar um presente, um futuro melhor.

Após a mamada, ele continuou com ela no colo, ela dormindo esboçou um sorriso. E o homem todo bobo, se perguntou como um dia ele conseguiu viver sem ela: "a minha super-guria".

E como se ela fosse entender o que ele falaria, soltou: _amanhã o pai vai te levar para casa e nós vamos assistir no Youtube as várias formas de arrumar o teu cabelo. Depois Vitória, vamos buscar a tua Certidão de Nascimento e procurar um advogado para que o pai consiga te cuidar em tempo integral por seis meses.

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Em qualquer Rua

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