sábado, 7 de junho de 2014

QLQRUA: Rosa

Imagem meramente ilustrativa/ Foto: banco de imagens
Vamos chamá-la apenas de Rosa. Rosa era uma linda mulher de cabelos cacheados e ruivos. Não era alta, tinha seios fartos e largos quadris. Falava bem e tinha uma forte personalidade. Tinha pais evangélicos, mas não ia na igreja, não gostava. Acreditava em Deus, mas não em pecado. Rosa, antes de casar, era garota de programa.

Desde o início da adolescência percebeu que não curtia o mesmo que suas amigas. Sabia bem o que era a sensualidade e o que podia fazer com ela. Não tinha completado 13 anos quando arranjou o primeiro namorado e foi com ele que perdeu a virgindade. Seis meses depois dispensou-o, pois não queria ser apenas de um, não queria ser de ninguém. Gostava de sexo e pensava que quanto mais parceiros melhor. Aos quinze anos fez um aborto escondido dos pais, pegou dinheiro emprestado com um primo e pagou aos poucos com o salário de um estágio. Estava no ensino médio.

Todos falavam dela. Seus apelidos nada carinhosos variavam. Galinha era o termo mais fofo quando alguém citava Rosa em uma roda de conversa. Os pais se preocupavam, porém a jovem não dava importância.

Aos 18 anos, Rosa engravidou de novo. No período já havia acabado o colégio e estava desempregada. Desespero! Ela não queria aquela criança. Novamente pediu dinheiro emprestado, contudo não para o primo e sim para o banco. Após o procedimento ficou preocupada, como faria para pagar.

Foi durante uma festa que ela lembrou de um fato importante. Conhecia uma mulher que tinha uma casa de prostituição, era sua amiga. Então viu nesta ideia a oportunidade de pagar a dívida e quem sabe mudar de vida. Rosa odiava morar com os pais que não aceitavam o seu jeito de ser. Rosa queria ser independente, dona não só do seus orgasmos, mas também do seu dinheiro e da sua casa.

Rosa procurou a amiga, que logo de início recusou que ela fizesse programas. Sabia que a jovem tinha uma boa estrutura familiar e que em breve começaria um curso técnico em enfermagem. Disse para ela que aquilo não era vida, era complicado. Lembrou-a que peguete se escolhe, cliente não. Rosa não se fez de satisfeita e insistiu até ser aceita.

Durante os meses iniciais Rosa trabalhou nesta casa, mas depois tinha uma clientela fixa e deixou o local para ser uma prostituta independente. Ficou neste ramo por mais ou menos dez anos e sempre demonstrou muita felicidade. Com o dinheiro dos programas comprou casa, pagou o curso e até viajou para o Nordeste Brasileiro. Sempre foi enfática ao dizer que "se gosta de dar e dar para quem quer que seja, que ao menos se ganhe dinheiro com isso". Este era praticamente o lema de vida.  E não pense que ela não usou isso como conselho para algumas amigas.

Foi durante um programa que ela conheceu o marido. Ele, quase vinte anos mais velho que ela, era cliente assíduo e com o passar do tempo se tornou cliente vip. Quando ele a pediu em casamento ela aceitou sem pensar duas vezes.

Rosa já estava com 28 anos e acreditava ter conquistado boa parte do que queria. Comprou casa, se formou técnica em enfermagem e viajou. Agora queria algo mais calmo, gostava de transar só com aquele homem. Gostava de conversar com ele. Sim, pela primeira vez não estava apaixonada, mas amava aquele ser e sabia que queria passar o resto da vida ao lado dele. Neste tempo Rosa já trabalhava em um hospital.

Passados cinco anos do casamento, Rosa teve sua primeira filha e recentemente deu a luz ao segundo. Se perguntarem a ela se hoje é feliz ela responde que sim. Que foi feliz antes e continua hoje. Sempre lembra que mesmo casada e com filhos continua sendo livre, que liberdade é muito mais que o físico, é alma. Não se arrepende de ter sido prostituta e diz que se um dia precisar volta a profissão. No momento está realizada profissionalmente.

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Rosa é um nome fictício, mas essa mulher realmente existe.

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