sábado, 28 de junho de 2014

QLQRUA: A vendedora de balas

Imagem: cultura mix
A mulher de estatura baixa estava sentada na escadaria de uma agência bancária, deveria ter por volta de uns 38 ou 40 anos. Vestia calça jeans e uma jaqueta preta. No colo dela estava a cabeça da filha, uma linda e sorridente menina que deveria ter uns nove anos no máximo. Ao lado da mulher, contra a parede, a mochila da guriazinha, que mal fechada mostrava os livros que estavam lá dentro. Do ladinho uma sacola plástica com caixinhas. A mulher segurava em uma das mãos a caixa de bala de goma e da outra dois pacotinhos.

A vendedora de bala oferecia "dois por R$ 1,00", com uma voz quase de humilhação. Talvez fosse isso mesmo que ela sentia, humilhação. Humilhação por estar ali vendendo balas de goma, por receber todos aqueles olhares...

Aqueles malditos olhares de nojo, de indiferença. Aquelas pessoas que por ela passavam e não se dignavam a dizer "não, obrigado!", mas quase a pisoteavam, como se aquele ser humano, mãe, não fosse nada. Fosse um lixo. Aquele olhar de repulsa que mostrava que o sentimento de compaixão com o próximo não existe.

Quem pode criticar uma pessoa por ela vender balas? Bala é bom, sempre vejo gente comendo, ou seja, qual o problema que as pessoas tem de respeitar esses profissionais? Porque sim, no momento que se vende algo isso se torna uma profissão, e não interessa se regulamenta ou não. Eu nunca vi ninguém olhar com nojo para um camelo, mas olham para o vendedor de balinhas.

Voltando um pouco, ninguém conseguiu no máximo tentar entender o motivo daquela mulher estar ali, na porta do banco vendendo goma. Pela forma que ela estava vestida e que a filha também estava percebia-se que certamente não eram moradoras de rua, nem ao menos a mãe consumia drogas. Era nítido que a pequena ia para a escola. O que pude deduzir na cena, e no breve momento que falei com ela, é que a mesma tem que enfrentar um outro degrau. O de ser mãe e ter que sustentar a casa.

Entrar no mercado de trabalho depois de uma certa idade é muito difícil, para a mulher com filhos nem se fala. Ainda mais quando ela tem baixa escolaridade. Outro empecilho é: onde deixar o rebento? Que educação ele irá receber durante as suas horas de ausência?

Enfrentando preconceitos ela segue ali firme e forte vendendo suas balas. Tem determinação e voz grave, sorriso encabulado, mas negocia bem. Dia pós dia ela enfrentará as adversidades, afinal viver é isso. Vendendo suas balas ela consegue cuidar da garota e ainda ter dinheiro para conseguir alimentá-la.    

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