sábado, 14 de junho de 2014

QLQRUA: A magia de ir ao estádio de futebol

Imagem ilustrativa/ Foto: internet
Ela mal dormiu a noite. Ansiosa esperava amanhecer, tinha tudo planejado. Ia levantar da cama, tomar banho, usar aquele hidratante especial e aquela colônia. Tinha vinte e poucos anos. Quando o sol se pôs no céu, ela levantou rápido e se arrumou. Pintou as unhas e vestiu a camisa do time do coração. Botou no cabelo uma faixa com o emblema da equipe, pintou na bochecha uma bandeirinha. Botou os tênis e engoliu rapidamente o café. Foi para o portão esperar o pai que iria buscá-la para assistir o jogo no estádio. Quem via aquela garota, pelo nervosismo achava que ela nunca havia estado lá antes, mas foi inúmeras vezes com os amigos. Mas com o pai era diferente, o clima era especial, o jogo se tornava mágico, e ela não tinha essa sensação desde os 14 anos.

Ele teve um sono agitado, acordou no meio da noite gritando gol. Acordou cedo e foi direto para o quarto dos pais e os acordou com um "vamos logo!' Eles viram a cena e riram, pegaram o menininho de seis anos no colo e lhe pediram calma, pois o jogo era só a tarde. Deram-lhe café com pão. Na hora do almoço ele não aguentava mais esperar, nunca havia demorado tanto para passarem as horas. Depois de comer subiu correndo as escadas e foi para o banho sem brigar, isso era raridade. Limpinho e cheiroso vestiu orgulhoso o fardamento da equipe do coração dos pais e dele também. Pediu para fotografá-lo e fez posses de jogador de futebol. Era a primeira vez que ele ia ao estádio.

A duplinha do barulho era composta pelas irmãs de cabelos cacheados. Diferente das meninas de 12 anos elas queriam seguir os passos do avô e queriam jogar futebol. Para elas ir ao estádio era rotina, mas naquele domingo a sensação não era a mesma, pois o avô tinha morrido e era a primeira vez que elas iam assistir um jogo sem ele. Com uma sensação esquisita e com um nó embolado na garganta, elas se arrumavam. Deixaram de lado as tradicionais e companheiras camisetas e usaram as do avô. Era uma forma de homenageá-lo. Antes de sair de casa deram as mãos ao pai e ao tio.

A pequena de oito anos quando acordada pela mãe lembrou que hoje era a estreia do irmãozinho de dois meses no estádio. Pulou da cama e correu para o berço. Lá olhou para o pequenino e com uma conversa toda encantadora lhe explicou como era uma partida de futebol, os detalhes da arena, do campo e do time. A mãe estragou a conversa dos irmão no momento que mandou a serelepe tomar café. Ela foi, mas nada satisfeita. Perto da hora de sair vestiu a camiseta e ajudou a mãe a arrumar o irmão. Lá no estádio ela se sentia em casa, pois acompanhava os pais desde que era bebê.

A jovenzinha de 16 anos foi outra que teve uma noite agitada. Ao amanhecer tomou banho, se perfumou, vestiu a melhor calça, o melhor par de meia, o tênis e a velha camiseta do time. Saiu com o pai para buscá o tio na rodoviária. O pai não gostava de futebol, diferente deste tio que morava no interior. Foi com ele que ela foi ao estádio de futebol pela primeira vez, e toda a vez que ele ia para capital era uma visita a arena.

A moça ao chegar no estádio agarrou a mão do pai. Sentiu uma brisa suave lhe bater o rosto e uma alegria brotava no seu peito. O sorriso no rosto era visível. Pouco antes de começar a partida comeu um cachorro-quente e brindou com refrigerante aquele momento singular. Na hora do jogo eles mantinham a atenção no campo. Na hora do gol um forte e longo abraço. Durante as jogadas mais arrastadas, ela encostava a cabeça no peito do pai, e ele passava a mão na cabeça dela, assim como fazia quando a jovem era uma guriazinha.

O garotinho ao chegar observava tudo. "Pai olha isso, pai olha aquilo". A mãe não foi, não curtia. Durante a partida, o pai lhe explicava tudo que se passava, ajudou-lhe a comer o sanduíche. No momento do gol, agarrou-lhe no colo e o lançou para cima. O guri faceirinho adorou o gol e adorou voar. Naquele momento passou a entender a sensação bacana do gol.

As gêmeas chegaram na arena com a família em peso. Sabiam que aquele momento era diferente. Na homenagem que o clube fez ao avô delas, elas agradeceram e com sorrisos travessos impediram que o pai e o tio chorassem. Se é bola é festa, foi diferente, porém não menos especial. Com o tempo elas e eles se acostumariam com a ausência do velho jogador.

A menina chegou com o pai, a mãe e o irmão. Preocupada não saia de perto do neném. Mostrava para ele as coisas do estádio, ao mesmo tempo que ela descobria coisas novas. Estava feliz, já que agora teria um novo parceiro. Sentada ao lado da mãe deu os braços para o pai no momento do gol. Adorava comemorar no colo dele, ele pulava e ela adorava aquilo.

A adolescente chegou de mãos dadas com o tio, conhecido como Mário Bros. Simpático conversou com alguns conhecidos sem soltá-la. Antes de começar chamou a garota para um brinde de suco de laranja "para mais momentos como este", falou alto e sorrindo. Para ele a sobrinha era a melhor companheira de futebol, para ela ele era a pessoa mais incrível para assistir futebol.

Por mais bacana que seja ir assistir futebol com os amigos, ir com quem te ensinou a conhecer e ver futebol é diferente. O esporte tem esse lado meio mágico, meio estrelado. De unir gerações, de unir quem se ama.

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