sábado, 14 de março de 2015

#QLQRUA: A paixão brasileira

Até tu Bob Esponja?!
A família para na frente da televisão. Largam os celulares por um tempinho, mas um ou outro pegava-o para twittar algum comentário. Na rua apenas uma moto com problemas de escapamento fez barulho. Os cães latiram, porém, coitados, foram mandados calarem as bocas.

No bar lotado, como todas as sextas-feiras, o garçom servia cervejas, porções de alimentos diversos e etc. Mas diferente dos demais dias, poucos o chamavam. Os olhos da clientela e de todos os demais estavam vidrados na tv, tal como nos jogos de futebol da Seleção Brasileira.

Em um dos quartos de um hospital, o acompanhante de um dos doentes tentava arrumar um jeito para a televisão funcionar. Era um mexe daqui, dali. Até que a imagem, com um pouco de fantasminha, pegou. E assim os quatro doentes e os três acompanhantes puderam assistir o programa.

Até mesmo no presídio as atenções estavam voltadas para o televisor (palavra que retirei do vocabulário dos meus avôs, hehehehehehe). Nenhum dos presos queria perder o capítulo.

O que chamou a atenção de tanta gente foi o último capítulo da novela Império. Uma história cheia de altos e baixos, com direito a algumas bizarrices. O sucesso do fim da novela foi tão grande que ficou nos TT's mundiais. E mesmo depois de algumas horas do fim total do enredo o assunto ainda estava nos mais comentados do Twitter.

Desde a novela Avenida Brasil (2012), história que ditou moda e memetizou na web, não se tinha um sucesso destes. As outras histórias até fizeram sucesso, contudo, muito por causa de um personagem que chamou mais a atenção, como no caso do vilão Felix, de Amor à vida. Se Avenida Brasil tinha Carminha, Nina, Max, Tufão, o homem e as suas três mulheres, um bairro movimentado, cheio de personagens marcantes, Império não ficou atrás, já que tinha o Comendador José Alfredo, Dona Maria Marta, a filharada, a tia Cora (louca), a Chana, a família doida da Maria Isis, e todos os conflitos sociais vividos, divididos por um subúrbio animado e a elite com fortes conflitos familiares.

De fato, no Brasil é loucura dizer que novela é coisa de mulher, este é o tipo de programa em que o público é generalizado. Este é o estilo de narrativa predileta de um povo que até bem pouco tempo atrás tinha um índice alto de analfabetismo. Agradando ou não as histórias de hoje pouco se parecem com as mais antigas. Agora os personagens são cheios de contradições e o mocinho também tem ares de vilão.

Verdade seja dita. Se o brasileiro tem paixões, novela só perde para algumas partidas de futebol.

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