quarta-feira, 23 de abril de 2014

#ConversasdeBar: Chega do olhar estigmatizado sobre os bairros de periferia

Ontem senti vergonha de ser brasileira. Senti medo por morar em bairro de periferia, senti medo não por mim, afinal sou mulher, classe média, branca e com formação de nível superior. Senti medo pelos meninos que conheço. Não que as condições do meu bairro sejam ruins, não é. Mas pela forma que esses garotos são vistos pela sociedade. 
Onde moro nunca vi um tiroteio, no máximo uma investida da polícia para prender uns bandidos. Nada de grave. O local é tranquilo e nunca ouvi falarem de que um pedestre tivesse sido assaltado.  Quando houve foram os comércios atacados, e mais pequenos furtos do que a mão armada. Não é um lugar inseguro. 

Mas já vi muito o preconceito que os rapazes, sejam eles com 20 anos ou com 12, sofrem. O branco sofre por ser homem, o negro é tratado como inferior, contudo os que mais sofrem são os pardos ou sararas. É como se a pele do menino definisse o caráter dele. E já presenciei e escutei que o "café com leite" é tramposo. Senti e sinto nojo cada vez que escuto essa frase. 

Eu sei, não expliquei o motivo do medo e da vergonha. Ontem, 22 de abril, ouvi a notícia da morte do dançarino DG, que se apresentava no programa Esquenta, da Tv Globo. DG tinha 26 anos e também trabalhava como moto-taxista. Ele foi encontrado morto por um tiro, após tiroteio entre policiais e traficantes no Morro Pavão Pavãozinho. O corpo estava em uma creche, local, de acordo com testemunhas, que ele havia procurado como abrigo. O que não dá para aceitar é que ele vire mais um número.

Mais um brasileiro que perde a vida de forma estúpida e vira número de estatística. Fato que não podemos tolerar. O que a mãe do dançarino quer é que a morte do filho seja explicada, e é isso que nós como integrantes da sociedade também queremos. Está mais do que na hora de pararmos de tratarmos as pessoas apenas como números e passarmos a reconhece-las pelo nome. Está mais do que na hora do Brasil aprender a dar justiça a sua população. 

Chega de Amarildos,  Cláudias e de DGs. Chega de achar que todo pobre pode ser traficante, que todo rapaz pode ser ligado ao tráfico. Chega de deste olhar estigmatizado sobre quem mora em bairros de subúrbio. 

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