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Dentro dela habita um ser perdido em desilusões, sonhos, amores, falta de esperança. Questionava a fé, a vida, os rumos que ela dá. Era impossível ser feliz naquele momento, era difícil ser infeliz. Nada, ela não sentia nada: nem alegria nem tristeza. Só havia angústia. Muita por sinal.
Momentos de transição nem sempre são fáceis de lidar. Tudo muda de repente, as pessoas desapontam, mentem. Quando as coisas se alteram na vida, apenas a tranquilidade ajuda no novo rumo que a história de um humano faz. Não era o caso dela. Ela ansiosa pela mudança, tinha medo de deixar tudo para trás. Tomou horror por alguns que durante anos considerou parte de sua família, de seu corpo. Não ódio, apenas nojo. Não sabia o que tinha feito para criar neles tamanha desilusão. Não entendia o motivo de a odiarem, se ela não fazia nada para que isso ocorresse. Aceitava, contudo não entendia.
A chaleira continuava a dar o seu sinal. Ela seguia ali em busca de entender tudo o que se passava. Não com os outros, e sim com ela. Procurava novos sonhos, resgatar os velhos, tentava sentir de novo a paixão pela vida, aquele calor... Buscava um sentido.
O cachorro latiu e lá fora o homem gritou: _Oh, carteiro!
Num susto voltou ao mundo real. Piscou rapidamente, olhou para a cozinha e viu a chaleira. Correu desligou o fogo, passou o café. Bebeu, comeu um pão. Lavou a louça. Foi tomar um banho e se arrumou para o trabalho. Com pressa pegou a bolsa e saiu rapidamente. O mundo não para só porque alguém tem um dilema dentro de si e ela sabia bem disso.
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