domingo, 23 de novembro de 2014

#QLQRUA: Em meio ao dilema, ela busca a paixão pela vida

Imagem da internet
A chaleira em cima do fogão apita avisando que a água esta fervendo. A casa segue com as janelas fechadas, mas há claridade. A luz do sol invade o local pelas poucas frestas e pelo vidro de uma das janelas. Ela esta parada com os olhos vidrados e parados. O foco esta em algo na rua que ela enxerga por aquela janela de vidro, mas ela nada vê, simplesmente porque a sua atenção não está em nada material. O corpo escorado na parede e o peito mostra um respirar complicado. O longo cabelo loiro escuro está despenteado e a longa franja tapa metade do rosto. Ela está e não está ali.

Dentro dela habita um ser perdido em desilusões, sonhos, amores, falta de esperança. Questionava a fé, a vida, os rumos que ela dá. Era impossível ser feliz naquele momento, era difícil ser infeliz. Nada, ela não sentia nada: nem alegria nem tristeza. Só havia angústia. Muita por sinal.

Momentos de transição nem sempre são fáceis de lidar. Tudo muda de repente, as pessoas desapontam, mentem. Quando as coisas se alteram na vida, apenas a tranquilidade ajuda no novo rumo que a história de um humano faz. Não era o caso dela. Ela ansiosa pela mudança, tinha medo de deixar tudo para trás. Tomou horror por alguns que durante anos considerou parte de sua família, de seu corpo. Não ódio, apenas nojo. Não sabia o que tinha feito para criar neles tamanha desilusão. Não entendia o motivo de a odiarem, se ela não fazia nada para que isso ocorresse. Aceitava, contudo não entendia.

A chaleira continuava a dar o seu sinal. Ela seguia ali em busca de entender tudo o que se passava. Não com os outros, e sim com ela. Procurava novos sonhos, resgatar os velhos, tentava sentir de novo a paixão pela vida, aquele calor... Buscava um sentido.

O cachorro latiu e lá fora o homem gritou: _Oh, carteiro!

Num susto voltou ao mundo real. Piscou rapidamente, olhou para a cozinha e viu a chaleira. Correu desligou o fogo, passou o café. Bebeu, comeu um pão. Lavou a louça. Foi tomar um banho e se arrumou para o trabalho. Com pressa pegou a bolsa e saiu rapidamente. O mundo não para só porque alguém tem um dilema dentro de si e ela sabia bem disso.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Leia as demais crônicas da série Em qualquer rua

Sem comentários: