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Gela a alma só de pensar nestes números, pois eu sinto lhe informar que os próximos dados são os piores. A violência que atinge os menores não vem da rua, mas sim de dentro de suas casas. Das denúncias registradas, 53% os acusados foram os pais.
Revolta pensar que aqueles que deveriam proteger são os principais agressores. Ainda dentro do núcleo familiar, depois dos pais, os criminosos são tios, primos, padrasto/madrasta, irmãos. Os que deveriam ensinar são os que maltratam.
Por uma questão social as denúncias quando chegam são tarde. A cultura do tapa prevalece. Mas seria ignorância acreditar que apenas a palmada fosse considerada o castigo. O problema é que estes seres em formação apanham de cinto, de fio de luz e sei lá com o que mais. O castigo físico que vem caracterizado como algo que é para ensinar. Além disso, vem as ofensas morais e também se enquadram no quesito. Assim como a surra, os xingamentos deixam marcas. Muito maiores no ego e na personalidade do que no corpo.
Lucas*, 13 anos, considerado tímido e um pouco destrambelhado sabe bem como são essas cicatrizes. Em 2012 ele foi encaminhado a Delegacia de Direitos da Criança e Adolescentes, pela escola, com as mãos muito machucadas. Ele havia quebrado o vidro da porta do armário ao fechá-la com muita força. Como castigo a mãe bateu nas mãos dele com fios de luz. Aquela não havia sido a primeira agressão, antes o menino já tinha apanhado inúmeras vezes. Nas costas ainda tem as marcas de surras. A professora já desconfiava das agressões e quando ele chegou machucado e pedindo ajuda, não pensou duas vezes e denunciou a mãe. Lucas não tem vergonha das marcas, porém não confia em quase ninguém. Sente medo de todos que se aproximam dele.
Podemos dizer que o número de agredidos aumentou, porque as denúncias cresceram. É bem provável que isso não reflita a realidade, contudo mostra a evolução da sociedade. Os brasileiros perdem aos poucos o medo e deixam de pensar que problemas familiares de seus vizinhos não são de suas contas. Temem pela vida do próximo. E com a criação do Disque 100 a maneira de denunciar a violência ficou mais fácil, além de garantir o anonimato.
Garantir uma qualidade de vida digna para as crianças e adolescentes é o nosso dever. Denunciar é um ato de amor ao próximo.
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*Lucas é um nome fictício, pois quem teve a história contada é menor de idade. Além disso, hoje ele mora com os avós e deve ter a sua identidade preservada para não ser mais exposto.
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