sábado, 3 de maio de 2014

QLQRUA: Perto de você pode ter uma criança ou adolescente sendo vítima de agressão

Imagem: Página Global
Bernardo, Alex, Clarinha... Perto de você pode ter uma criança ou um adolescente sendo vítima de algum tipo de agressão. Parece exagero, mas não é. De acordo com dados da Secretária de Direitos Humanos da Presidência da República, em 2013 a cada hora 15 crianças sofrem agressões físicas, morais ou sexuais. Só no ano passado a Secretária recebeu 170 mil denúncias.

Gela a alma só de pensar nestes números, pois eu sinto lhe informar que os próximos dados são os piores. A violência que atinge os menores não vem da rua, mas sim de dentro de suas casas. Das denúncias registradas, 53% os acusados foram os pais.

Revolta pensar que aqueles que deveriam proteger são os principais agressores. Ainda dentro do núcleo familiar, depois dos pais, os criminosos são tios, primos, padrasto/madrasta, irmãos. Os que deveriam ensinar são os que maltratam.

Por uma questão social as denúncias quando chegam são tarde. A cultura do tapa prevalece. Mas seria ignorância acreditar que apenas a palmada fosse considerada o castigo. O problema é que estes seres em formação apanham de cinto, de fio de luz e sei lá com o que mais. O castigo físico que vem caracterizado como algo que é para ensinar. Além disso, vem as ofensas morais e também se enquadram no quesito. Assim como a surra, os xingamentos deixam marcas. Muito maiores no ego e na personalidade do que no corpo.

Lucas*, 13 anos, considerado tímido e um pouco destrambelhado sabe bem como são essas cicatrizes. Em 2012 ele foi encaminhado a Delegacia de Direitos da Criança e Adolescentes, pela escola, com as mãos muito machucadas. Ele havia quebrado o vidro da porta do armário ao fechá-la com muita força. Como castigo a mãe bateu nas mãos dele com fios de luz. Aquela não havia sido a primeira agressão, antes o menino já tinha apanhado inúmeras vezes. Nas costas ainda tem as marcas de surras. A professora já desconfiava das agressões e quando ele chegou machucado e pedindo ajuda, não pensou duas vezes e denunciou a mãe. Lucas não tem vergonha das marcas, porém não confia em quase ninguém. Sente medo de todos que se aproximam dele.

Podemos dizer que o número de agredidos aumentou, porque as denúncias cresceram. É bem provável que isso não reflita a realidade, contudo mostra a evolução da sociedade. Os brasileiros perdem aos poucos o medo e deixam de pensar que problemas familiares de seus vizinhos não são de suas contas. Temem pela vida do próximo. E com a criação do Disque 100 a maneira de denunciar a violência ficou mais fácil, além de garantir o anonimato.

Garantir uma qualidade de vida digna para as crianças e adolescentes é o nosso dever. Denunciar é um ato de amor ao próximo.

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*Lucas é um nome fictício, pois quem teve a história contada é menor de idade. Além disso, hoje ele mora com os avós e deve ter a sua identidade preservada para não ser mais exposto.

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