sábado, 20 de junho de 2015

#QLQRUA: a camisa xadrez de caipirinha

Imagem da internet
A Festa Junina não havia começado nem mesmo para quem a organizaria, mas para aquele menininho, de seis anos, ela já estava acontecendo. A primeira coisa que ele notou foi de que a camisa xadrez vermelha não servia mais, a calça com remendos também não.

_Vó, eu não vou, não tenho roupa! 

Disse ele já com lágrimas nos olhinhos castanhos, e logo depois aquele beicinho virou choro. Como ele iria para a festa sem roupa? Para o pequeno ir a uma festa junina sem estar vestido de caipirinha urbano não fazia o menor sentido. Usar a roupa de gaúcho nem pensar. Cada comemoração tem a sua vestimenta, pelo menos é o que acreditava. A manha foi maior quando ele lembrou que além da festa do bairro também teria uma na escolinha, logo, a tragédia de não ter a roupa completa foi dupla.

_VÓ, EU NÃO VOU!

A vó então o indagou, perguntou o motivo de tanto choro. Imediatamente ela abriu a gaveta, pegou uma calça mais velhinha, uns pedaços de jeans e começou a montou a calça caipira. Sentada no sofá, enquanto assistia a novela. Ele estava sentado na poltroninha da frente e se entreteu ao ver a vó costurar. 

Quando ficou pronto, ele olhou, agradeceu, porém ficou ainda com uma carinha triste. Faltava a camisa. Passou o tempo e durante o jantar ele já havia se conformado com o fato de ter apenas a calça caipira e não ter a camisa. O dinheiro estava curto e comprar mais uma camiseta iria gerar um custo extra. 

Passaram os dias. A organização para a festa já havia começado. Era um tal de traz coisa para cá, bota lá, faz bolo, pipoca... 

O garotinho acompanhava tudo de perto, ajudou a recortar as bandeirinhas. A avó estava envolvida na organização do evento.  Ele já tinha garantido a bota, a calça, o chapéu de palha e até um lápis de olho para fazer as pintinhas na bochecha e o bigodinho. Não foi necessário pintar um dente, o guri brincava com o fato de estar banguela, já que havia perdido naquele mês dois dentes de leite. 

Mesmo assim ele não havia esquecido da camisa xadrez vermelha que havia deixado de lhe servir, comentava com as tias, com a mãe que havia ido vê-lo, com o "namoradrasto" (ele chama assim o namorado da mãe) , com quem fosse falar com ele. Todos os amiguinhos estavam com a vestimenta completa, e a dele faltava um item. 

Só que ele não esperava a surpresa que iria receber. Pouco antes da festa começar, a vó saiu da banquinha do brechó com uma camisa xadrez azul e cinza nas mãos. Chamou o pequeno e o vestiu. A alegria naquele momento foi tanta, que a camisa foi chamada de: _ A mais linda do mundo".

Teve dança sem música, palminhas batendo e um largo sorriso. Foi contar para todos que estavam por ali que havia ganhado um presentão. Agora sim ele poderia curtir a festa com toda pompa. A fantasia de caipirinha urbano completa. Quem o via todo alegre de camisa nova, nem poderia notar que ela tinha um rasguinho no bolso.

--------------------------------------------------------

O sábado não poderia acabar sem a crônica da série Em qualquer rua. Além desta há outras 50 esperando serem lidas. Clique aqui e confira. 

Sem comentários: