sábado, 21 de novembro de 2015

#QLQRUA: A lama e a tragédia anunciada

Distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG). / Rogério Alves/TV Senado - Fotos Públicas
A lama que invadiu o Rio Doce, o matou, destruiu vilarejos em Mariana, Minas Gerais, traz dor de cabeça aos habitantes do estado do Espírito Santo. Matou pessoas trouxe uma tragédia sem tamanho para o Brasil. Destruiu casas, lares, mutilou famílias, matou animais, acabou com lembranças, livros. Destruiu a natureza.

A água de tom escuro que inspirava vida, cheia de peixes, que servia de ganha pão dos pescadores agora tem a cor marrom, esta embarrada. A água é imbebível. Não serve nem mesmo para regar as plantas.

O motivo da gigantesca devastação é porque as barragens que romperam eram de rejeitos de mineração. De acordo com especialistas na água a praticamento todos os elementos da tabela periódica. Só que o pior ainda poderá acontecer, e os técnicos da Samarco (empresa responsável pelas barragens) outras duas ainda poderão se romper, principalmente em virtude da chuva que atingirá o estado mineiro nos próximos dias.

Além da morte de toda uma biodiversidade, até o momento que escrevo essa crônica eram 11 mortos, sendo que apenas oito haviam sido identificados, e 12 pessoas seguem desaparecidas para desespero de suas famílias.

O cruel nisto é que a população de Mariana segue sem dormir a noite, com medo do estouro das outras duas barragens, seguem sem sono ao não poderem abraçar seus parentes sumidos, nem enterrar seus corpos.

A tragédia pode até ter pego todos de surpresa, mas não foi algo que não se imaginasse. Era um fato anunciado. Rachaduras existiam, sabia-se que a capacidade das barragens já não supria mais o que era produzido diariamente. Sabia-se e nada se fez.

Mais uma vez o problema foi ignorado, mais uma vez as causas não foram pensadas. O problema ficou na suposição até que há duas semanas virou realidade. A lama tomou conta de dois vilarejos, destruiu vidas, matou animais, poluiu um rio. A vida aos poucos irá se reestruturar, a natureza por muitos anos sofrerá os impactos da má administração humana. A nós resta cobrar empresas e governos para que a história de Mariana não se repita a outros lugares, que a fiscalização que não foi realizada em Minas Gerais seja feita. Que as leis fiquem mais duras, e acontecimentos catastróficos como este não sejam encarados como naturais, como ocorreu com a lama de Mariana, por via de decreto presidencial.

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Faltam apenas duas crônicas para encerrar a série Em Qualquer Rua, histórias que podem acontecer em qualquer rua, em qualquer casa. Crônicas sobre o cotidiano, sobre mim, sobre vocês ou sobre o vizinho.  Lê-las é fácil, basta clicar aqui.

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