sábado, 3 de outubro de 2015

#QLQRUA: A rua da Paixão

Imagem: banco de imagens
A rua da Paixão tem um nome bem poético, fica em uma cidade qualquer, num bairro qualquer. A denominação foi escolhido pela falta de criatividade dos moradores e pela falta de pessoas importantes historicamente, naquele local não havia nascido ninguém importante. Foi chamada de Paixão e assim ficou.

A rua da Paixão no passado era composta de malocas de papel e barro, nelas habitavam famílias enormes, algumas chegavam a ter entre 10 a 20 crianças, irmãos, primos e achegados. Com o avançar dos anos as malocas deram lugar a singelas casas de madeira, as famílias diminuíram, a miséria deu lugar a pobreza. Era um lugar de muito trabalho, feio, mas de muita alegria. Os vizinhos aos finais de tarde, no verão, iam para as calçadas conversar enquanto bebiam algo e comiam petiscos, enquanto as crianças brincavam para aproveitar as férias. Na rua apenas uma casa tinha televisão e todos a noite se reuniam na varanda para assistir aos programas musicais.

A vida não parou e assim a rua da Paixão também teve o seu estilo alterado. As casas de madeira seguem ali, outras são feitas de tijolo, porém nunca receberam reboco, outras estão acabadas, são simples, mas bonitinhas. A rua segue de chão batido, levantando poeira a cada ventania. A pobreza segue.

A rua da Paixão hoje tem moradores solitários, famílias enormes, famílias pequenas. Tem bacharéis, teve moradores que partiram e outros novos. Não tem mais a alegria de outrora, vive triste e amarronzada. Se antes era reduto da tranquilidade e da parceria entre vizinhos, hoje é local do medo, da insegurança. O tráfico tomou conta, as paredes das casas e dos muros tem marcas de balas. Os traficantes expulsaram alguns moradores, a polícia, o poder publico e todo o resto esqueceram da rua da Paixão.

Se antes as crianças aproveitam as noites de verão para brincar, atualmente são elas os mais frágeis neste esquecimento. Há algumas semanas atrás um menino de 12 anos morreu, com um tiro na cabeça, sabia de mais. Ele foi apenas mais um que perdeu a vida e entrou na estatística triste da velha e esquecida rua da Paixão.

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